terça-feira, 19 de abril de 2011

Sobre a Páscoa (por Roberto Pena)

 A Páscoa é um daqueles eventos e ritos que na maioria das vezes celebramos sem saber com exatidão do que se trata. Originalmente foi instituída para comemorar a saída dos hebreus do Egito; vale lembrar que aquele povo foi escravo no Egito durante quatro séculos.  Diante da recusa do faraó Ramsés em permitir a saída dos hebreus, segundo a Bíblia, Deus puniu o Egito com diversas pragas. Para preservar seu próprio povo, Deus o instruiu a marcar suas casas com sangue, de modo que onde houvesse aquela marca a praga não chegaria.

O versículo 13 do capítulo 12 do livro de Êxodo diz : “O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue passarei por vós e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito”.
 Observe que o relato bíblico diz :  “...quando eu vir o sangue passarei...”  É exatamente esse último verbo que da o significado da palavra Páscoa. Num sentido mais amplo a Páscoa é a passagem do povo de Deus da escravidão no Egito à Terra Prometida.  Os versículos 26 e 27 do capítulo 12 do mesmo livro explicam com clareza o que é Páscoa. Naquele trecho a Bíblia diz : “Quando vossos filhos vos perguntarem : Que rito é este ? Respondereis : É o sacrifício da Páscoa ao Senhor, que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as nossas casas...”

A celebração da Páscoa é o mais antigo ritual judaico e ocorria durante uma semana toda. Os participantes dramatizavam vestindo – se como quem fosse viajar e demonstrando pressa e ansiedade.

A Páscoa, que originalmente era um ritual judaico, ganhou uma nova significação no cristianismo, de modo que o cordeiro sacrificado nos ritos judaicos é associado à figura de Cristo. Este é para os cristãos o Cordeiro Pascal por excelência (como o apóstolo Paulo se refere a Ele no livro de I aos Coríntios 5:7), pois foi sacrificado em favor de todos nós.

Todo e qualquer evento cultural, cuja prática não é unânime na sociedade, sofre influência da cultura hegemônica e, por isso, acaba sendo ressignificado. Foi o que ocorreu com a Páscoa, que de festa judaica se tornou num dos maiores eventos cristãos.  Esse processo de ressignificação é perfeitamente plausível. O que é incompreensível, porém, é a associação da Páscoa ao coelho e ao chocolate.

Arrisco dizer que a sociedade moderna, tão secularizada, só mantém a memória de eventos como a Páscoa (assim como do Natal) porque conseguiu reduzi-lo à condição de mercadoria. A sociedade capitalista possui um mecanismo que funciona como um filtro que permite a passagem apenas de eventos passíveis de serem ressignificados em benefício do mercado. Assim, no caso da Páscoa, extraiu-se o conteúdo espiritual num processo de ressignificação tal que as palavras ovo e chocolate tornaram-se sinônimos de Páscoa.

*Roberto Pena -  Graduado em Sociologia, especialista em Antropologia Cultural, Pedagogia Social e em Est. Teológicos, professor de sociologia no Col. Frederico B. Rabelo.

  

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